domingo, 12 de agosto de 2012

HISTÓRICO DA ESCOLA

A Escola Municipal Barro Branco foi inaugurada em 24.08.1987, como resultado da luta da Associação de Moradores para que a comunidade conseguisse a sua primeira escola pública. É preciso que se registre que o pequeno prédio, que até então abrigava uma escola da rede particular, estava fechado há algum tempo. Foi realizada uma obra aligeirada, com material não muito confiável que, por esse motivo, após a compra do imóvel, pela Prefeitura, já iniciava  o seu processo de deteriorização física.

O que devemos destacar é que o nome da escola não poderia deixar de ser o da comunidade, tendo em vista que a mesma contribuiu significativamente para essa única referência de espaço público  na localidade. Alguns nomes se destacaram neste grupo: Augusta Nery de Oliveira, que ainda hoje exerce a função de Inspetora de Alunos na escola, Bernadete da Silva, Maria Ferreira da Silva, Deusvaldo Araújo de Oliveira, que eram lideranças entre os moradores e outros.

Nos seus primeiros anos de existência passou pela dificuldade natural de uma escola de difícil acesso: a alta mobilidade de seu corpo docente e, conseqüentemente, a falta de vínculos destes profissionais com a escola e com a comunidade.

Até 1987 os professores que atuavam na rede eram contratados. Como resultado do 1º concurso para professores, na rede, a escola recebeu 4 (quatro) professoras.

Mas, foi, somente a partir de 1990, com a chegada à escola de um grupo maior de professores concursados, em número de 8 (oito), que vai ser inaugurada uma nova fase na trajetória da escola.

Em 1991, chega mais um grupo de professores (10), já que a escola estava funcionando no prédio maior onde está, atualmente, situada a E. M. Nova Campinas. Nessa ocasião a escola Barro Branco passava por reformas, pois as condições físicas do prédio, às quais já nos referimos, tornaram impossível a permanência de todos naquele local. Já havia caído reboco do teto, que, por sorte, não atingira nenhum aluno. A diretora iniciou uma peregrinação junto às autoridades municipais, para que fossem feitas reformas estruturais na escola. Foi nesse período, após a persistência de toda comunidade, que a Prefeitura desapropriou dois terrenos ao lado da escola e o prédio foi reformado e ampliado com a construção de mais duas salas.

Neste mesmo ano, a SME (Secretaria Municipal de Educação) criou um projeto denominado Repensando a Alfabetização a ser implementado em algumas escolas da rede, cuja finalidade era introduzir o construtivismo nestas escolas, que apresentaram elevados  índices de retenção. A Barro Branco estava nesta situação e, por isso, foi incluída neste projeto.

A coordenadora deste projeto na rede levou 5 (cinco) professoras da escola para realizarem  um estágio no CAP/UERJ (Colégio de Aplicação da  Universidade do Rio de Janeiro), durante 30 (trinta) dias, em alguns dias da semana e no horário de trabalho destas professoras. Nestes encontros eram desenvolvidas práticas pedagógicas construtivistas envolvendo conteúdos de Português, Matemática e Ciências. A proposta pedagógica do CAP/UERJ baseava-se   no construtivismo e poderia contribuir para a fundamentação teórico- prática que todos buscavam.

Esta parceria com o CAP/UERJ foi fundamental, pois estas professoras, que desejavam adquirir conhecimentos necessários a uma melhor atuação junto a seus alunos, perceberam que precisavam de muita fundamentação teórica para realizar um trabalho de qualidade, que não podia ficar limitado aos muros da escola. Foi o início de uma busca por apoio no sindicato, na SME e  em parcerias diversas.

Nos anos de 1991 e 1992 as professoras, que acreditavam na teoria construtivista, foram desenvolvendo sua prática, recebendo, semanalmente, o acompanhamento da supervisora da SME.  Sem uma reflexão profunda sobre a teoria, chegavam, facilmente, até à sala de aula todos os mitos e tabus que impregnaram uma prática que, se acreditava, tinha por base esta teoria.

Em 1993, já no prédio da  Barro Branco, no início do ano letivo, chegam mais 8 (oito) professores, e nesse mesmo ano, chega à escola sua primeira Orientadora Pedagógica. Veio pelo concurso realizado em 1992. Ao se apresentar, em início de abril, esta orientadora encontrou alguns professores recém-chegados, como ela, que se juntaram aos que já se encontravam na escola. A rede considerava a escola construtivista e na realidade ninguém ali tinha embasamento teórico suficiente para levar essa proposta adiante, inclusive a orientadora que estava chegando. Foi feita uma proposta ao grupo: todos iriam aprender juntos – diretora, dirigentes de turno, orientadora, professores. Esta vontade de aprender parecia ter contagiado a todos. O solo era fértil.

Já no início de maio, sentiu-se a necessidade de um encontro pedagógico quinzenal, que foi denominado Troca de Experiências (T. E.). Já naquela época, percebia-se a necessidade de um trabalho docente participativo e, para que isto acontecesse, era necessário que houvesse um espaço de reflexão crítica, coletiva e constante sobre a prática pedagógica. Os encontros quinzenais (T.E.) tornaram-se um espaço de estudos teóricos e de trocas sobre a prática desenvolvida nas salas de aula. Sua realização, no entanto, trouxe problemas, pois a supervisora da SME, que visitava a escola periodicamente, queria que o grupo pedisse autorização à SME para os encontros e o grupo não concordou.  Disse que iria apenas comunicar o fato. Resistiu. O grupo já começava a delinear seu perfil.

Se hoje temos a garantia dos Grupos de Estudo, no calendário oficial da rede, isto é o resultado de muita luta. Foram inúmeras datas-base, muitas pautas de reivindicação até esta conquista; luta esta encampada, desde o início, pelos profissionais da escola.

Nos dez primeiros anos de existência a escola foi dirigida pela Profª Vera Lúcia Conceição Barreto. A diretora, que havia sido indicada pela SME e não por políticos, como era regra geral no município, por ter visão voltada para o pedagógico, engajou-se no projeto de escola que o grupo parecia querer construir. O grupo passou a freqüentar todo e qualquer espaço onde houvesse oportunidade de estudo: palestras, encontros, seminários, projeção de vídeos sobre a construção da escrita, oficinas, etc. Buscava-se, a todo custo, fundamentação teórica que viesse embasar as ações pedagógicas daquele grupo.

Em 1995, chega à escola a primeira Orientadora Educacional. Já havia, na escola, um trabalho sério de envolvimento, de participação na luta sindical. Duas professoras já haviam sido diretoras do SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro).  Esta orientadora, também ex-diretora do SEPE, veio contribuir para o aprimoramento da dimensão política que deve transversalizar o fazer pedagógico de todo educador que luta por uma escola pública de qualidade.

A relação da escola com o sindicato  é uma relação muito forte. Nas assembléias, quando há indicação de  militante  da base para as mesas de negociação, o nome de alguém da escola sempre está presente. A participação da Barro Branco em passeatas, visita às escolas, atos, paralisações, greves, etc. é motivo de orgulho para todos os profissionais que atuam nessa U.E. Esta parceria com o sindicato acontece, também, na Semana de Planejamento, quando procuramos fazer junto com o sindicato e as demais escolas, a atividade de abertura da semana.

A partir de 1998, a professora Rosana Nunes Carregosa, por indicação da comunidade escolar, assumiu a direção com o compromisso de dar continuidade a um trabalho sério, respaldado por todos que aqui trabalhavam. Essa mudança ocorreu em decorrência da aposentadoria da professora Vera Lúcia Conceição Barreto, que muito colaborou na construção da história dessa escola.

A partir de agosto de 1999, nossa escola novamente voltou a funcionar de forma bastante precária, junto à Escola Municipal Nova Campinas, ocupando divisórias instaladas em sua quadra coberta, em decorrência de uma nova reforma e ampliação de suas instalações. Cabe ressaltar a pouca possibilidade de participação no projeto de reforma e ampliação da escola, o que explica o fato dessa ampliação não corresponder às necessidades percebidas pela comunidade.

Em agosto de 2000, retornamos à comunidade de Barro Branco para a reinauguração da escola, já devidamente reformada e ampliada.

Em 2002, com a criação da Turma de Surdos, a escola passou a oferecer atendimento educacional  a crianças surdas. Este trabalho foi fundamentado na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), sob regência de uma professora da U.E. que era acompanhada por um monitor surdo, que atuava, também, como dinamizador das aulas de LIBRAS, destinadas à comunidade escolar como forma de favorecer a comunicação destes alunos no espaço escolar e na comunidade local.
            
Em 2003, a escola passou a ter outra direção. Em virtude da professora  Rosana Nunes Carregosa ter pedido exoneração do cargo, a professora Mirian Silva de Freitas Felizardo foi indicada pelo grupo e assumiu a direção da escola, com o mesmo compromisso de continuar o trabalho que até então vinha sendo realizado.
            
Ainda em  2003, foram criadas  as primeiras turmas no  ensino noturno, destinado, preferencialmente, a familiares de alunos já matriculados em nossa Unidade Escolar. Fundamentada em Paulo Freire, a proposta educacional adotada nesta modalidade de ensino, assenta-se na perspectiva da educação como ato político, favorecedor da construção de novas relações sociais, a partir da análise e compreensão da práxis e da realidade social mais ampla, que mobiliza e motiva a participação cidadã.
            
Inicialmente, direcionamos o trabalho pedagógico aos familiares  de alunos efetivamente matriculados na escola, como forma de possibilitar as condições concretas para a participação e acompanhamento destes, na vida escolar de nossos alunos e na construção da proposta pedagógica da escola.
            
Nesta fase inicial do trabalho, focalizamos a ação educacional nos adultos (acima de 21 anos), de forma prioritária, como medida de atendimento à demanda da comunidade, organizando o espaço da escola e a proposta pedagógica de modo a atender às  especificidades, desejos, aspirações, representações, medos e ansiedades próprias desta faixa etária.
            
A focalização dessa ação deu-se em função do levantamento do número de pais e/ou responsáveis, na comunidade, que revelou a existência de uma parcela considerável de adultos analfabetos e /ou subescolarizados que mantinham, adormecido, o sonho de retornar aos bancos escolares e que encontravam, na vergonha de sua condição, o principal obstáculo. Atualmente, atendendo à demanda, foram abertas vagas para pessoas da comunidade.
             
Assim, optamos pelo direcionamento da organização da escola e de sua proposta pedagógica a essa faixa etária específica, como forma concreta de intervenção na realidade local.
            
Devido  ao aumento do número de turmas, a  U.E. passou a ter direito  ao cargo de  vice-diretora. Foi indicada, pelo grupo, como primeira vice-diretora, a professora Dilcirlene Borges Nascimento, que permaneceu na função até 2005, saindo, a pedido,  e  realizando um trabalho reconhecido e admirado por toda comunidade escolar. Continuando o exercício de gestão democrática que vimos assumindo, em 2006, o grupo indicou, em substituição à professora Dilcirlene Borges Nascimento, a professora Idiléa Thomaz de Aquino Pereira  para exercer o cargo de vice-diretora da escola.
            
Em 2006, chegam à escola mais duas orientadoras que, por compartilharem  do mesmo compromisso com a escola pública de qualidade, vieram contribuir para o enriquecimento do trabalho que vinha sendo desenvolvido até então.
            
A professora Mirian Silva de Freitas Felizardo permaneceu na direção da escola até o final de 2006, saindo, a pedido. A partir de 2007, a professora  Idiléa Thomaz de Aquino Pereira, com o apoio de toda comunidade escolar, assumiu a direção da escola, tendo a  professora Liliam de Mattos Pereira, como vice e dando continuidade a esse processo de gestão compartilhada que vem marcando a trajetória desta U.E.
            
Em 2008, a escola desenvolveu, em parceria com a UFF (Universidade Federal do Rio de Janeiro),   o projeto: “Educação Popular, Currículo e Culturas: uma proposta de Pesquisa e Formação de Professores da E. M. Barro Branco em Duque de Caxias – RJ”, aprovado pela FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, dentro do programa “Apoio à melhoria do Ensino em escolas públicas sediadas no Rio de Janeiro – 2007”. Este projeto teve como objetivo aprofundar, coletivamente, o olhar sobre a prática e sobre o universo cultural múltiplo e diverso que circula dentro e fora do espaço escolar.
            
Os resultados preliminares da pesquisa foram apresentados fora do espaço escolar, em palestras, congressos e seminários, suscitando novas indagações sobre o processo de ensino e aprendizagem e a necessidade de dar continuidade aos estudos realizados durante o desenvolvimento do projeto.
            
Dentre as questões  suscitadas surgiu a necessidade de  investimento na formação de hábitos de leitura, por toda  a comunidade, por entendermos a necessidade de aprofundar o diálogo entre as múltiplas culturas existentes, dentro e fora do contexto escolar e de  compreender as perspectivas de futuro existentes e as que surgirão através das práticas leitoras.
            
Em 2010, agora em parceria com a UERJ/FEBF (Universidade do Rio de Janeiro – Faculdade de Educação da Baixada Fluminense –  campus Duque de Caxias), e UERJ/FFP (Universidade do Rio de Janeiro – Faculdade de Formação de Professores – campus São Gonçalo), tivemos  mais um projeto aprovado pela FAPERJ, também dentro do programa: “Apoio à melhoria do ensino em escolas públicas sediadas no Rio de Janeiro – 2010”, intitulado:  “A Formação de Comunidades Leitoras na Periferia: a articulação da dimensão pedagógica e política no acesso à leitura”, cujo objetivo  consiste em investigar em que medida práticas de leitura desenvolvidas junto às famílias de classes populares podem repercutir no desenvolvimento dos hábitos de leitura e na ampliação do repertório dos alunos das escolas públicas. 
            
Estes projetos, aprovados pela FAPERJ, constituem-se em mais uma das ações prioritárias  da primeira meta do nosso PPP, intitulada: Aperfeiçoamento do trabalho educativo a ser realizado de forma coletiva. O sentido desta ação consiste em articular a pesquisa acadêmica às  atividades de formação continuada dos professores de nossa U.E., tendo como objetivo final a aprendizagem de nossos alunos, tanto em sua dimensão cognitiva, como na referente à construção de novas práticas sociais, como preconizam os princípios que orientam o nosso projeto político-pedagógico.
            
Ainda em 2010, a Unidade Escolar passou por um novo processo de escolha de direção, no qual  a professora Idiléa Thomaz de Aquino Pereira, mais uma vez, teve seu nome legitimado para permanência na função de diretora, com aproximadamente 90% de aprovação de toda comunidade escolar. A professora Liliam de Mattos Pereira foi substituída, a pedido, pela professora Mara Ester Lessa Guedes, cujo nome, também, foi referendado neste mesmo processo de escolha.
            
Nos arquivos desta escola estão  registrados, de forma muito clara, os pilares sobre os quais se assenta o trabalho que vem sendo desenvolvido pela escola: o estudo, a formação continuada, o trabalho coletivo e a gestão compartilhada.
           
Os professores vêm marcando presença em encontros, congressos, seminários e conferências buscando, cada vez mais, o aprimoramento profissional. Mais de 95% já buscaram a universidade, alguns têm mestrado e outros estão se encaminhando para ampliar a sua formação.
            
A escola, pelo trabalho que realiza, vem sendo procurada por diversas instituições superiores de ensino, com a finalidade de funcionar como campo de pesquisas acerca de variadas temáticas de estudo, tanto para  monografias, nos cursos de graduação,  como para dissertações de  mestrado  e teses de  doutorado.
            
Acreditamos que a forma de gestão faça a diferença, pois na direção compartilhada os problemas de qualquer ordem são levados para o grupo. Há um esforço coletivo de buscar a integração do trabalho educativo baseado no princípio de efetivar a escola em seu caráter verdadeiramente público.
                

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